OS ODS, A ESG E A POLUIÇÃO DOS MARES
OS ODS, A ESG E A POLUIÇÃO DOS MARES*
Lícia Nascimento**
A International
Maritime Organization – IMO foi oficialmente fundada em 1948, na
Conferência de Genebra como decorrência do estabelecimento das Nações Unidas,
mas foi só em 1958 que a Convenção da IMO entrou em vigor e houve a primeira
reunião da Organização.
Seus
objetivos descritos na Convenção são: fornecer mecanismos cooperação entre os
governos relacionadas a questões técnicas que afetam o transporte marítimo
envolvido no comércio internacional com a adoção de altos padrões de eficiência
e segurança; incentivar a remoção de ações discriminatórias e restrições
desnecessárias por parte dos governos que afetam o transporte marítimo
envolvido no comércio internacional; prever a consideração pela Organização de
questões relativas a práticas restritivas desleais por parte de empresas de
transporte marítimo; proporcionar a troca de informações
entre os Governos sobre assuntos sob consideração pela Organização.
Considerando
que atividade de navegação implica em grande risco ao meio ambiente por conta
da poluição causada no mar e pela emissão nocivas de gases de efeito estufa
(GEE), a IMO passou a regulamentar medidas e a definir estratégias de proteção,
com vistas a consecução da sustentabilidade no transporte marítimo.
A
Convenção Internacional para Prevenção da Poluição por Navios, de 1973,
modificada pelo protocolo MARPOL 73/78, abrange a poluição acidental
operacional por óleo, bem como a poluição por produtos químicos, mercadorias
embaladas, esgoto, lixo e poluição do ar.
Outras
Convenções foram estabelecidas regulamentando a responsabilidade dos poluidores
e a compensação às vítimas que vêm sendo aprimoradas ao longo dos anos, bem como
convenções sobre gerenciamento de água de lastro, reciclagem de navios e
sistemas antiincrustantes.
A importância da sustentabilidade para o ambiente marítimo
reside em sua busca pela eficiência, o que significa a sobrevivência da
atividade em âmbito global.
Atualmente, é mandatório que todas as infraestruturas
se adequem a estratégias que visem a realização dos dezessete Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS).
Os ODS estão no documento “Transformando o nosso
mundo: a Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável”, publicado pela
Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015. Eles abrangem erradicação
da pobreza, fome zero, saúde, educação, igualdade de gênero, água e saneamento,
energia limpa e acessível, trabalho decente, indústria, inovação, redução das
desigualdades, cidades sustentáveis, consumo responsável, ação contra a mudança
do clima, vida na água, vida terrestre, paz, justiça e instituições eficazes, e
parcerias para a implementação dos ODS.
ESG é a
sigla, em inglês, para Environmental, Social and Governance (Ambiental, Social
e Governança). De modo geral, o ESG mostra o quanto um negócio está buscando
maneiras de minimizar os seus impactos no meio ambiente, de construir um mundo
mais justo e responsável e de manter os melhores processos de administração.
Com
o propósito de se alinhar com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da
Organização das Nações Unidas a IMO adotou um conjunto de medidas
internacionais obrigatórias para melhorar a eficiência energética dos navios em
2011, além de medidas regulatórias com a adoção de estratégias para redução de
emissões de GEE de Navios em 2018, revisadas em 2023.
A
ambição da IMO é atingir emissões líquidas zero de GEE do transporte marítimo
internacional até 2050, adotando medidas de médio prazo como uma norma técnica que
regule a redução gradual de GEE de combustível marítimo, bem como a
precificação de emissões marítimas de GEE.
Um
bom exemplo para ilustrar as estas medidas foi que a partir de 1º de janeiro de
2023 tornou-se obrigatório para todos os navios calcularem seu Índice de
Eficiência Energética de Navios Existentes (EEXI) e estabelecerem seu indicador
de intensidade de carbono operacional anual (CII) e classificação CII.
Assim,
os navios recebem uma classificação de sua eficiência energética (A, B, C, D, E
– onde A é o melhor). Um navio que funciona com um combustível de baixo carbono
obtém uma classificação mais alta do que um que funciona com combustível
fóssil.
Os
combustíveis fósseis, derivados de hidrocarbonetos, são predominantes na
utilização de navios mercantes, cuja importância estratégica gerou o
desenvolvimento tecnológico com a construção de embarcações com capacidade de
carga cada vez maior e aumento do potencial poluidor.
A análise das emissões de CO2 provenientes do transporte marítimo internacional mostrou que os índices podem aumentar entre 50% e 250% até 2050, dependendo do crescimento econômico e da evolução energética (IMO, 2014). Essas previsões foram confirmadas por pesquisas mais recentes que enfatizam a magnitude das emissões de CO2 provenientes do transporte marítimo internacional, em caso de ausência de medidas políticas e metas ambiciosas de redução de gases de efeito estufa (IEA, 2017).
A
diminuição do impacto ambiental e o atingimento das metas da IMO para
descarbonização passa necessariamente pela substituição dos combustíveis fósseis
por fontes alternativas de energia.
Entre
estas fontes passíveis de substituírem os combustíveis fósseis estão a amônia,
os biocombustíveis, a energia elétrica, células de combustível, hidrogênio,
metanol e vento.
No
entanto, em qualquer tipo de alternativa haverá controvérsias a respeito da
viabilidade, sustentabilidade ambiental e economicidade, além de questões como
segurança, regulamentação, disponibilidade de infraestrutura etc.
Perguntas
como quem vai pagar a conta e como será fiscalizado o cumprimento das normas da
IMO também estão postas para a comunidade internacional e os atores da indústria
de navegação.
Países
como o Brasil que é o segundo maior produtor de biocombustíveis e atuante em
pesquisas nesta área, podem contribuir para o sucesso na substituição dos
combustíveis fósseis no transporte marítimo.
O
certo é que as mudanças climáticas causadas pela atuação humana no planeta estão
próximas da irreversibilidade e a descarbonização mundial é agenda prioritária
para o desenvolvimento sustentável.
Realizar os ODS depende de uma mudança de cultura
materializada por meio de revisão de políticas e programas internos e
estabelecimento de planos comprometidos com o meio ambiente (environment), com
o social (social) e com a governança (Governance).
As
metas/estratégias da IMO constituem instrumentos disponíveis e, embora haja
muitos questionamentos, as organizações estão trabalhando em busca de soluções
para manutenção da sustentabilidade.
Não
há solução mágica. As respostas serão encontradas na medida em que as mudanças
forem implantadas, testadas e aperfeiçoadas.
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* Para conhecer mais sobre o tema recomendo a seguinte leitura:
SILVA, Paulo Max Villas da; MAGALHÃES, Diogo Franco. A estratégia de descarbonização da Organização Marítima Internacional (IMO): biocombustíveis nacionais como fonte alternativa de energia no transporte marítimo. 2022.
** Advogada, pós-graduada em Direito Processual, dedicada a atividades profissionais do Direito Marítimo. Atualmente é aluna do Curso de Pós-Graduação em Direito Internacional do Mar e Direito Marítimo da PUC-MG e Direito da Infraestrutura da PUC-MG. Integra o quadro de advogados da Companhia Docas do Rio de Janeiro.
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